CRONISTAS. Miguel Esteves Cardoso dizia, há pouco, que gosta de ler «coisas compridas que deram trabalho a descobrir», a «pensar», e a «escrever». Também eu tenho saudades dos tempos em que os jornais e as revistas publicavam textos compridos que deram trabalho a escrever, do tempo em que O Independente abria com duas páginas de Agustina, das revistas K e Best Off, e dos primórdios da Grande Reportagem. Mas o que realmente me chateia nos dias de hoje é ver alguns dos nossos melhores cronistas reduzidos a três parágrafos. Posso estar enganado, mas duvido que os leitores apreciem o modelo. Provavelmente os editores ter-se-ão convencido de que os leitores não têm tempo (ou paciência, ou as duas coisas) para ler mais que três parágrafos, mas eu duvido outra vez. Verdade que alguns me adormecem ao segundo parágrafo, e até já nem leio meia dúzia com esse receio. Mas destes não é o tamanho que me chateia. Chateiam-me porque escrevam coisas desinteressantes ou de forma desinteressante, às vezes as duas coisas. E não me refiro aos cronistas de que discordo quase sempre (podia citar alguns de que discordo quase sempre cujas prosas nunca dispenso), mas aos que escrevem de modo em que nem se aproveita o estilo, nem o conteúdo. É uma opinião, bem sei, tão discutível como qualquer outra. Mas o pior que me podem dizer é que tudo isto é relativo, e assunto encerrado. É que eu estou farto do relativismo que tudo iguala, quer seja bom, quer seja mau. Estou farto da preguiça mental que o relativismo, no fundo, encerra, para não dizer que o relativismo é uma forma de fugir à discussão. O que me convence são os argumentos, não os relativismos. E ainda me hão-de demonstrar que o formato minúsculo é o que os leitores preferem. [Originalmente publicado em 1-10-2009]