UMA TRAGÉDIA. É fácil e barato fazer juízos de valor sobre a actuação das forças de segurança em situações-limite como a que se verificou no assalto a uma agência bancária de Campolide e a que ontem ocorreu em Loures, de que resultou a morte de uma criança. As forças da autoridade têm, em casos destes, de decidir como agir em fracções de segundo, e há sempre imponderáveis difíceis de prever ou controlar, por mais competentes e experimentados que sejam os agentes das forças de segurança. Assim sendo, umas vezes as coisas correm bem, como no caso da agência bancária; outras vezes correm mal, como no caso de Loures — num caso e noutro, porém, independentemente da competência ou da incompetência. Mas se isto me parece uma evidência a ter em conta quando se procura entender o que se passou, também é bom que se questione o papel das forças de segurança sempre que do desempenho da sua actividade resultam mortes, de bandidos ou de inocentes. Por exemplo, era mesmo necessário recorrer à força extrema para travar um caso de pequena criminalidade? Depois, se a ideia era imobilizar a viatura onde seguiam os fugitivos, como justificar que um disparo contra uma roda tenha acabado nas costas da vítima? Detesto dar razão a Fernando Rosas, mas ele parece tê-la quando diz que estamos perante o «uso desproporcionado e aparentemente incompetente» de armas de fogo. Tanto mais que havia, segundo a Lusa, «uma recomendação da Inspecção-Geral da Administração Interna» alertando as forças de segurança para o facto de só poderem utilizar armas de fogo «durante uma perseguição», e «quando está em perigo a vida dos agentes ou de terceiros». Resta esperar que a tragédia de Loures não tenha resultado do excesso de entusiasmo motivado pela bem-sucedida operação de Campolide, mais precisamente de mão leve no gatilho. É que, a ser assim, seria muito mais que uma tragédia: seria um crime. [Originalmente publicado em 12-8-2008]