PENSAMENTO ÚNICO. Tenho o péssimo hábito de me bater por aquilo em que acredito, ignorando timings, circunstâncias e eventuais prejuízos. Digo péssimo hábito porque esta prática só me traz prejuízos, e de dissabores é melhor nem falar. Como saberá quem sofre do mesmo mal, o acto de opinar é, quase sempre, visto como um delito, na melhor das hipóteses uma excentricidade tolerada, apenas, a alguns. Pior só quando a opinião vem de quem pensa pela sua própria cabeça e, ainda pior, ousa dizer o que pensa, pois há quem ache isto intolerável. Contrariamente ao que possa parecer, não são poucos os que não hesitariam em decretar o pensamento único (o deles, claro) caso tivessem poder para tal. É que contestar uma ideia dá trabalho, e são necessários argumentos. Já calar quem não pensa como nós, ou recusar discutir uma ideia com quem não pensa como nós, dá menos trabalho, e sempre permite esconder a incapacidade de quem não consegue impor-se pela força dos argumentos, quase sempre a origem do problema. Há, ainda, outro factor a considerar: é frequente contestar-se quem opina, em vez do que é opinado. Como se as opiniões valessem, ou não, por quem as defende, não pelo que defendem. Mas devo dizer que nada disto impede de me bater por aquilo em que acredito, e por vezes funciona como um estímulo. Até porque burro velho não aprende línguas, nomeadamente quando a vontade é pouca, e a motivação nenhuma. [Originalmente publicado em 30-7-2008]