FALHANÇO TOTAL. Como escrevi por ocasião das Presidenciais de 2008, votei Obama porque não me pareceu que o opositor fosse capaz de provocar a catarse que o país necessitava, porque me pareceu que Obama era o que melhor corporizava a vontade de mudança, porque achei que se renderia ao pragmatismo em matérias como a segurança, porque Obama era, em suma, o menos mau dos candidatos. Dois anos volvidos, o saldo é francamente pior do que imaginava. Obama falhou na economia (a fortuna injectada na banca e no sector automóvel não produziram os afeitos desejados), falhou no desemprego (que se mantém ao nível mais alto dos últimos 26 anos apesar dos milhões investidos em obras públicas com o objectivo de gerar emprego), falhou na saúde (se o seguro de saúde entrar em vigor será uma pálida imagem do que Obama pretendia e há sérias dúvidas de que irá beneficiar quem mais dele precisa), falhou na política interna (foi preciso a hecatombe das intercalares de Novembro para falar com a oposição), falhou na política externa (não só não acabou com a guerra do Afeganistão como ainda a alimentou e o Iraque não está inteiramente resolvido), falhou nos direitos humanos (proibiu a divulgação de fotografias de abusos sobre prisioneiros, pôs uma pedra sobre os voos da CIA alegando tratar-se de assunto de Estado, declarou que os detidos na base afegã de Bagram não tinham direitos constitucionais, Guantânamo continua por fechar). Até ver, apenas se pode gabar de diminuir o ódio à América, embora os americanos se ralem pouco com isso. Nem o Prémio Nobel da Paz, que lhe atribuíram sem que se percebesse porquê, esconde um desempenho medíocre, e a desilusão bem expressa nas intercalares de Novembro. Bem pode Obama atribuir o fracasso à herança da administração anterior que as evidências são muitas e só não as vê quem não quer, e é bom não esquecer que Obama sabia bem ao que ia quando se candidatou e nem por isso se inibiu de prometer o céu e a terra. [Originalmente publicado em 16-11-2010]