FACTOS E SUPOSIÇÕES. O terrorismo islâmico passa a vida a repetir que odeia o nosso modo de vida; que a sharia é a única lei que deve ser respeitada; que pretende subjugar as mulheres e derrubar os «governos muçulmanos corruptos» (leia-se governos muçulmanos moderados); que os «infiéis» que não aceitarem a conversão devem ser massacrados sem dó nem piedade, pois a vida de quem não pensa como eles não tem qualquer valor; que não há inocentes ou culpados, mas «fiéis» e «infiéis»; que os verdadeiros muçulmanos anseiam pela morte, deles e da nossa; que, finalmente, o terrorismo é um instrumento legítimo quando se destina a atingir os fins a que se propõem. Perante estes factos (repito: factos), há quem justifique o terrorismo islâmico argumentando que estamos perante gente pobre e desempregada, desesperados que vivem em guetos onde são alvo de toda a espécie de humilhações (os 45 médicos muçulmanos que ameaçaram fazer explodir carros armadilhados e rebentar granadas nos EUA são, certamente, uma excepção); quem ache que o terrorismo islâmico se deve à globalização (hoje em dia não deve haver mal no mundo que não se deva à globalização); que o terrorismo se deve à invasão do Iraque (como se os atentados de 11 de Setembro não tivessem ocorrido antes da invasão do Iraque); que a nossa riqueza os humilha e condena à pobreza (a velha tese de que os ricos são os culpados pela existência dos pobres); que o uso da força nada resolve (nunca existiram as guerras que puseram fim a inúmeros conflitos, como sabemos); que na origem dos atentados terroristas por esse mundo fora está a luta do povo palestiniano (de que eles nunca quiseram saber e despudoradamente usam como pretexto); que a ofensiva contra o terrorismo tem tido como consequência a sua legitimação política (uma estupidez pura e simples); que os terroristas são moralmente equivalentes a quem os combate (esta confesso que não tenho palavras para comentar). Resumindo, os terroristas têm razões de sobra para fazerem o que fazem. Isto porque uns acreditam nas razões que eles defendem, outros porque acreditam nas razões de quem os justifica, outros ainda porque se recusam a acreditar nuns e noutros. Entretanto, continuamos alegremente a fingir que não ouvimos nem vemos — ou a não dar a importância devida ao que ouvimos e vemos. Pior: continuamos a desculpar o que não tem desculpa, enquanto eles agradecem e prosseguem a matança. É uma visão a preto e branco, bem sei. Mas os factos são o que são, e não deixam margem para dúvidas. [Originalmente publicado em 10-7-2007]