ESQUERDA E DIREITA. Tirando Freitas do Amaral, não conheço uma única pessoa que se tenha mudado da Direita para a Esquerda, embora alguns garantam que Freitas nunca foi de Direita. Falo de quem muda de ideias, não de quem muda por outras razões. Com todo o respeito por Freitas do Amaral, parece-me que mudar da Direita para a Esquerda é como andar de cavalo para burro. Aliás, não será por acaso que se diz que todos vamos ficando mais conservadores à medida que envelhecemos, embora eu prefira dizer que vamos ficando mais pragmáticos — ponto que a Direita tem claramente a seu favor e para o caso de uma coisa não ser sinónimo da outra. O 11 de Setembro de 2001, aliado à circunstância de me encontrar próximo de um dos locais onde ocorreu a carnificina, fez-me regressar à política — ou estar mais atento à política. Como apoiei a invasão do Iraque e não sou anti-americano (coisa rara de se ver na generalidade da Esquerda), acusaram-me de ser de Direita. Reparem que eu digo «acusaram-me», pois foi disso que se tratou. Fiquei a saber que ser de Direita é coisa feia, no mínimo razão para tomarem cuidado com as carteiras. Acontece que eu não sei se sou de Direita. Para ser franco, não sei, nem me interessa. Em política (mas não só em política), sou contra o que acho errado, e a favor do que julgo acertado. Se isso implicar estar ao lado da Esquerda ou contra a Direita, que implique. Se isso significar o contrário, que signifique. Se um governo — qualquer governo — tomar medidas que eu julgar acertadas, aplaudo sem hesitar; se considerar o contrário, critico com a mesma desenvoltura. Seja o governo de Esquerda, seja o governo de Direita, seja o governo o que for. Aliás, estou convencido de que qualquer pessoa medianamente sensata que não milita num partido político (para estes não deve ser fácil conviver com o que discordam) não terá dificuldade em reconhecer boas ideias na Esquerda e boas ideias na Direita, e que a mediocridade está democraticamente distribuída. Como também julgo suceder com a maioria dos que se interessam por política, há muito que a dita se tornou, para mim, um mal necessário. Não porque a considere, em si, uma coisa má, mas porque a prática política e seus protagonistas têm demasiados episódios que me desagradam. Mas, tal como o outro, também acho que a política é um assunto demasiado sério para ser deixado, apenas, nas mãos dos políticos. Não que eu pretenda mudar o Mundo — ou, sequer, a opinião de alguém. Falo de política porque o regime me concede esse direito, porque a política é um assunto que me interessa, e porque sim. Umas vezes estarei à Esquerda, outras à Direita, outras ainda em lado nenhum. Estarei, porém, do lado que julgar acertado, e cada vez mais com a sensação de que sou um privilegiado. Digo bem: um privilegiado. Afinal, quantos se poderão gabar disso? [Originalmente publicado em 12-8-2007]