CEREAL KILLERS. Pondo de parte o vandalismo gratuito, os «amigos do ambiente» distinguem-se do resto dos cidadãos por defenderem causas raramente compreensíveis ao comum dos mortais. A causa dos alimentos geneticamente modificados, que levou uns sujeitos a destruir um hectare de milho no Algarve perante a passividade das autoridades, está longe do consenso na comunidade científica, e a léguas de demonstrar que os transgénicos são um perigo para a saúde. Como se viu pelo episódio de Silves, não é assim que eles pensam. Os sujeitos têm certezas que mais ninguém tem, embora depois metam os pés pelas mãos quando toca a entrar em pormenores. Pior: não respeitam quem não pensa como eles, e não há dúvida de que não hesitariam em impor o pensamento único caso tivessem poder para tal. Há, ainda, factores que não têm em conta, e deviam. Por exemplo, esquecem-se que os transgénicos significam comida que muitos não teriam caso esses produtos não existissem. Aliás, descontando excepções, os «amigos do ambiente» não se cansam de demonstrar que as borboletas são, para eles, mais importantes que o Homem, e quem está a par das actividades que desenvolvem sabe que não exagero. Isto quando não usam a causa do ambiente com outras finalidades, o que não é raro suceder, deixando à vista que a verdadeira razão que os move tem pouco a ver com a causa que dizem defender. Mas nada contra quem defende o ambiente, notem bem. O ambiente necessita de quem o defenda, e há gente séria a fazê-lo que admiro e respeito. O meu problema é que me repugnam actos como o do Algarve, e que as autoridades se demitam de cumprir o que delas se espera. Repugna-me que políticos eleitos simpatizem com práticas destas, pois o gesto desculpa a inércia das forças da ordem e fomenta vandalismos do género. Repugna-me, por último, que os sujeitos ainda tenham o desplante de dizer que só pagarão os prejuízos causados ao agricultor caso o tribunal assim o decida, pois o que fizeram destinou-se a «evitar um mal maior» e, presumo, ainda lhe deviam agradecer. O ministro Jaime Silva garantiu que os «amigos do ambiente» vão pagar por aquilo que fizeram, nomeadamente os prejuízos causados ao agricultor, que cometeu a imprudência de não os receber a tiros de caçadeira. Tenho, porém, fundadas razões para duvidar. Afinal, outro ministro (Rui Pereira) apressou-se a dizer que a GNR «fez exactamente o que deveria», e isto é já um indício de que o caso não tarda em cair no esquecimento e na impunidade. Exagero? Infelizmente, não creio. Práticas passadas demonstram que casos destes terminam dessa maneira, e não se conhecem excepções. [Originalmente publicado em 30-8-2007]