SÃO ROSAS. A tragédia americana de 11 de Setembro continua a perturbar inúmeras cabecinhas. Embora não se lhe possa atribuir o exclusivo dos disparates, Fernando Rosas foi, seguramente, dos que mais contribuiu para o ror de asneiras que por aí se disseram. Defendeu o ex-candidato à Presidência da República, na sua última crónica do Público, algumas teses bem curiosas. Em primeiro lugar, um conceito de terrorismo. O terrorismo que atingiu os EUA «não defende os mais pobres e os mais fracos» e «não luta por um mundo menos iníquo e mais justo», disse ele. Além disso, acrescentou, «o terrorismo fundamentalista não é desculpável». Se bem entendi, quer isto dizer que o terrorismo seria desculpável se defendesse os pobres e os mais fracos e não fosse fundamentalista. Interessante. Fernando Rosas diz depois que «a retaliação militar e política para que o Governo dos EUA está a arrastar a UE (...) é a pior e a mais perigosa das respostas a esta crucial interrogação». Será, senhor Rosas. Mas eu pergunto: qual será então a melhor resposta? Dar dinheiro aos agressores? Um raspanete? Ficar de braços cruzados? Prossegue depois a sua cruzada dizendo que os americanos se preparam para entrar numa «guerra contra incertos», onde o «inimigo não coincide com um regime, um Estado ou um território precisos». E que, assim sendo, se estabelece «um novo e inquietante conceito de política internacional». Será inquietante, senhor Rosas. Mas eu pergunto: qual é a diferença entre um bando de criminosos que actua por contra própria e um país que comprovadamente os alberga e protege? Diz depois que a resposta dos EUA é um gesto de vingança e «está marcada por traços xenófobos, cruzadistas e de arrogância civilizacional». Ou seja, antecipa qual vai ser a resposta dos EUA quando só hoje, mais de uma semana depois, se começa a saber. E depois recorre ao insulto para dizer o que visivelmente não sabe ou finge ignorar. Será que o presidente Bush já não deixou bem claro que «a cruzada» americana não é contra o mundo islâmico? Será que o senhor sabe que há mais de três milhões de árabo-americanos e mais de seis milhões de muçulmanos a residir nos EUA? Será que o senhor sabe que todos estes cidadãos têm direito a voto e podem, por isso, penalizar o senhor Bush numa futura eleição? Diz depois que os «bombardeamentos cirúrgicos» ainda não começaram e já há milhares de vítimas da fome e da doença no Afeganistão, devido à fuga das ONGs. E eu pergunto: se os taliban precisam das ONGs para sobreviver, a culpa é dos americanos? Não será devido a uma guerra que dura há mais de duas dezenas de anos? Ou, em última análise, à pobreza que eles próprios criaram? Termina dizendo que a guerra americana será inútil operacionalmente e «moralmente injusta». E acrescenta numa frase de efeito: «Hoje, os que se opõem ao terrorismo islâmico e ao contraterror retaliatório não capitulam, combatem.» Comovente, senhor Rosas. Mas quem são os combatentes e o que estão a fazer? Onde estão e que resultados já alcançaram? O senhor defende, perante os acontecimentos de 11 de Setembro, que os americanos deviam ficar de braços cruzados à espera que alguém (talvez o senhor) lhes diga o que devem fazer. Meu caro Fernando Rosas: os americanos podem ser arrogantes e ter um presidente que só diz disparates. Mas salta à vista de um cego que têm toda a legitimidade para se defenderem. O resto é pura retórica e anti-americanismo primário, que no seu caso o impedem de ver o que está à frente dos olhos. [Originalmente publicado em 7-10-2001]