MATAR OU MORRER. O sector intelectual de Lisboa do Partido Comunista concluiu que não há Estado mais terrorista que os EUA. Além do terrorismo militar, os americanos não hesitam em recorrer ao «terrorismo económico» ou «agro-alimentar» para defender os seus interesses, dizem os comunistas. Ficamos assim a saber que, tal como dantes os comunistas comiam criancinhas, os americanos são hoje terroristas. Mas não ficaram por aqui os disparates das ilustres cabecinhas. Num acesso de imaginação delirante, um tal João Vieira chegou a dizer que a ajuda humanitária distribuída pelos EUA no Afeganistão não era comida mas, imaginem, «produtos agrícolas americanos, para se abrir um novo mercado e criar o hábito do seu consumo». Depois de ter sustentado que o combate ao terrorismo tem de passar pela redução das desigualdades e do fosso entre pobres e ricos, o PC vem agora dizer que os americanos são mais terroristas do que ninguém. Amanhã, sabe-se lá, vão exigir que os americanos sejam exterminados. Também o Bloco de Esquerda tem umas ideias curiosas acerca do que os americanos não devem fazer para combater o terrorismo e, de caminho, defenderem a sua gente. Sobre o que deve ser feito, o Bloco limita-se a dizer que deve ser a ONU a conduzir o processo. Mesmo reconhecendo que as Nações Unidas tem tido «falta de fôlego» para resolver os conflitos. Mesmo reconhecendo que a ONU tem sido «crescentemente desvalorizada» por todos. Mesmo reconhecendo que a ONU tem estado em «submissão às grandes potências». Mesmo sabendo que a ONU, após uma semana de discussão, nem sequer chegou a um consenso sobre o que é o terrorismo. É claro que os «bloquistas» não avançaram a mais leve ideia de como a ONU deve combater o terrorismo, deixando claro que não sabem do que falam nem isso é importante. A única certeza que o Bloco tem é que os americanos, perante os ataques de 11 de Setembro, deviam ficar de braços cruzados. Ou então tomarem medidas destinadas a reduzir as desigualdades e o fosso entre pobres e ricos, que o Bloco não se cansa de apregoar como sendo a raiz de todos os males. Como se a destruição das milhares de estátuas de buda pelos talibans, há meio ano atrás, não chegasse e sobrasse para mostrar que o argumento das desigualdades é um perfeito disparate. Como se ficar de braços cruzados não fosse mais perigoso do que partir para uma guerra e suas consequências. É claro que o objectivo do Bloco é dar largas ao seu anti-americanismo primário e, de caminho, dizer que a guerra não é a melhor solução. Só que, queiramos ou não, a questão que os americanos têm em mãos não é uma mera abstracção: é uma questão de vida ou de morte, de matar ou morrer. Assim sendo, torna-se claro que só há uma solução: agir já e discutir depois. Não aceitar esta evidência só mesmo a "esquerda paleolítica" de que fala Miguel Sousa Tavares. [Originalmente publicado em 15-10-2001]