DROGA. Miguel Sousa Tavares defende que o Estado deve fazer «uma espécie de nacionalização do tráfico de drogas duras» de modo a «concorrer com o mercado» na venda das ditas «a preço de custo e sem adulteração». Mas com condições: «que os compradores sejam portadores de documento emitido pelas autoridades que os reconheça dependentes; que a venda se faça sob vigilância médica e assistência psicológica e social em locais determinados para o efeito; e que, paralelamente, sejam agravadas as penas para o tráfico de droga clandestino». Ora, com o devido respeito, eu acho um perfeito disparate. Tal como Miguel Sousa Tavares, há anos que também eu defendo a legalização do consumo de drogas, mesmo o consumo das drogas duras. Mais: há anos que defendo que a droga deve ser livremente vendida como outro produto qualquer. Não por estar convencido de que é a melhor solução, mas porque me parece a menos má. A venda livre de droga tem enormes vantagens: passa a ser mais barata e de melhor qualidade, e paga impostos em vez de os consumir. Acaba, ainda, com o mito do fruto proibido, e com a violência associada ao tráfico e consumo. Além de que não me parece que deva ser o Estado a vender droga, mesmo a pretexto de um controlo de qualidade e de a vender a preço de custo. Tal medida mais não seria de que uma forma de o Estado substituir o traficante — além de incentivar o consumo do que condena. Quanto à repressão, está mais que provado que nenhuma forma de repressão impediu o tráfico de droga. Ir por aqui, é continuar a gastar rios de dinheiro e não resolver coisa alguma. Além de que os primeiros beneficiados com a repressão ao tráfico são, precisamente, os traficantes. [Originalmente publicado em 5-1-2004]