O CIRCO. A RTP mudou não sei para onde e fez um escarcéu que só visto. Ainda por cima um escarcéu disfarçado de informação, como não saltasse à vista que aquilo era um programa de variedades sem música pimba (pelo menos eu não vi música pimba). E houve suspense e tudo, por alma de um segredo muitíssimo bem guardado e não menos publicitado. E qual era o segredo? Bom, eu não vi tudo mas presumo que o segredo era um estúdio de televisão com uma porrada de metros quadrados e mais não sei quê que o tornava num dos maiores da Europa (ou seria do Mundo?). Por mera coincidência, vi parte do programa numa altura em que tentava retomar a leitura de Dinossauro Excelentíssimo, um belíssimo conto de Cardoso Pires que faz uma caricatura do dr. Salazar. Mas o cardeal Policarpo e a água benta insistiam em misturar-se com o conto (e que bem que se misturavam), de maneira que eu cheguei a um ponto que já não distinguia o que era realidade e o que era ficção. Não que o circo montado pela televisão não estivesse bem, pelo menos a parte que eu vi. O meu problema é que aquilo não tinha sido anunciado como tal e eu contava com uma coisa mais ou menos sóbria, mais ou menos discreta, mais ou menos informativa. Não estava a contar com jornalistas disfarçados de entertainers a engonhar para manter a pantalha no ar durante horas a fio. Além de que tudo aquilo me pareceu uma manifestação de novo-riquismo verdadeiramente terceiro-mundista. [Originalmente publicado em 6-4-2004]