O FUTEBOL. O último Boavista-Sporting terminou com o presidente do primeiro a dizer que o futebol é uma «mentira» e o treinador do segundo a fazer umas declarações misteriosas acerca do comportamento do árbitro. Isto uma semana depois de Porto e Benfica se terem envolvido numa batalha campal, seguida da inevitável guerra intestina. O futebol português continua uma vergonha, mas nem por isso incomoda os seus dirigentes. O senhor Valentim, que se mostrou indignado com as declarações de uma magistrada quando esta afirmou que o futebol «é um mundo de branqueamento de dinheiros sujos» e de «promiscuidades políticas (...) altamente nocivas para as instituições democráticas», já se esqueceu do que disse e age como se nada fosse com ele. A revelação de que os clubes estão cheios de dívidas ao fisco também não o incomodou, alegando que são «atoardas» e que a comunicação social está «contra o futebol». Como não incomodou ninguém o facto de o senhor Madaíl ter afirmado que «quem diz mal do futebol português é porque não gosta» e que Jaime Pacheco admitisse que o Boavista poderá «fazer mais faltas» para atingir os seus objectivos. Como não incomoda ninguém o facto de os árbitros estarem, há anos, sob suspeita, a começar pelos próprios. O futebol português não tem emenda. Graças a estes e outros senhores, tornou-se num espectáculo indecoroso nos bastidores e inexistente nos relvados. E quando mete política, então nem se fala. Veja-se o caso do Partido Socialista, que reagiu à notícia das dívidas considerando necessário que a Administração Fiscal discuta «muito seriamente a situação com os clubes» de molde a «chegar-se a uma conclusão negociada entre ambas as partes». Ou seja, os clubes não pagam o que devem e o PS acha que é preciso mais um «totonegócio». Dir-me-ão que o futebol português é o reflexo do País que temos. Pois seja, mas a mim já me parece que o contrário é que é verdadeiro. [Originalmente publicado em 3-11-2002]