A MEDIOCRIDADE. Os políticos portugueses andam muito preocupados com o comportamento... dos políticos. O presidente Sampaio apelou à «sanidade da democracia». Mota Amaral diz que é preciso «mudar o tom do debate político». Mário Soares acha que se «criou um ambiente de desânimo» e Freitas do Amaral que se está a usar uma «linguagem de carroceiro». Manuel Alegre não tem dúvidas que estamos a assistir a um «apodrecimento da vida política» e Duarte Lima que se respira «um ar viciado». Louçã acha que «a República vive uma crise muito grave» e Santana Lopes que se «ultrapassaram limites». Tudo isto numa altura em que o principal acontecimento político foi o desempenho de uma comissão parlamentar de inquérito às demissões na Judiciária, que se reuniu à porta fechada para evitar que os jornalistas divulgassem pormenores eventualmente sensíveis que depois acabaram na praça pública revelados pelos senhores deputados. Comissão que, recorde-se, acabou em águas de bacalhau e com cenas pouco edificantes. A política portuguesa é assim: um sítio mal frequentado e cada vez mais longe dos cidadãos. Onde a mediocridade é a regra e o resto excepção. [Originalmente publicado em 18-11-2002]