O CRIME COMPENSA. O perdão fiscal decretado pelo Governo parece ter atingido o objectivo. E o objectivo, vale a pena lembrar, era arrecadar uns milhões de euros mais ou menos de um dia para o outro, que havia desígnios nacionais urgentíssimos a cumprir. Acontece que o Governo, com este expediente, acabou por premiar quem não cumpre, não deixando o gesto de ser lido como um estímulo para que tudo continue na mesma. Além de ser um insulto aos cidadãos cumpridores, que legitimamente se interrogarão se valerá a pena cumprir as suas obrigações a tempo e horas. Está bom de ver que os fins nem sempre justificam os meios. E que não se pode tapar um buraco abrindo outro, como foi claramente o caso. Optando por uma lógica puramente economicista em vez de actuar com firmeza contra os prevaricadores — que lhe teria permitido arrecadar o que lhe é devido e castigar exemplarmente os faltosos —, o Governo acabou por demonstrar que o crime compensa. Exactamente o contrário do que devia, pois é com atitudes como esta que as coisas são o que são. [Originalmente publicado em 13-1-2003]