A CAMPANHA. Não sei se «o futebol tem sido o 'bombo da festa' deste país», como diz o senhor Valentim. O que eu sei é que mal alguém se atreve a apontar um dedo a um dirigente da bola cai logo o Carmo e a Trindade e logo nos vêm lembrar a existência de uma “campanha contra o futebol”. Realmente esta gente da bola parece sentir-se intocável e segura de que nada ou ninguém os pode enfrentar, como lembrou Vale e Azevedo em livro recentemente lançado, embora ultimamente se tenha notado algum nervosismo. Desta vez, perante uma declaração do procurador-geral da República a dizer que há mais casos no futebol português a serem investigados, o presidente da Liga de Clubes ameaçou parar os campeonatos e as obras dos estádios e o presidente do Porto sugeriu que «todos os dirigentes desportivos deviam fechar os clubes e entregar as chaves ao presidente da República». Enfim, as ameaças da praxe por parte de quem se julga intocável. A novidade de tão malcheirosa novela são as declarações posteriores do presidente do Sporting. Além de subscrever as afirmações de uma ex-directora adjunta da Judiciária, que garantiu ser o futebol «um mundo de branqueamento de dinheiros sujos», Dias da Cunha não tem dúvidas que «há muitos sacos azuis» e «muito dinheiro sujo» no futebol português. Nem mais. O presidente do Sporting confirmou, alto e bom som, o que toda a gente suspeita. Se mais razões não houvesse, isto devia chegar e sobrar para que os demais dirigentes da bola moderassem um pouco a bazófia. Até porque não há dúvida que alguns deles são responsáveis pelo que há de pior no futebol português. [Originalmente publicado em 31-12-2002]