MEXER NA DITA. Clara Pinto Correia acha que a cópia quase integral de um texto publicado na New Yorker — e depois servido aos leitores como se de prosa sua se tratasse — não passou de um «"fait-divers" absolutamente trivial». Em entrevista ao Expresso, a ex-cronista da Visão voltou a justificar o «copianço» com uma explicação absolutamente estapafúrdia, como se o cansaço ou os problemas familiares explicassem o que se passou. E depois não se coibiu de chamar «abutres» a quem se atreveu a criticá-la. Porque há pessoas que gostariam que a sua vida «ficasse toda em cacos»; porque a comunicação social tentou «fazer um casaco a partir de um botão»; porque existe na comunicação social «a voragem de tentar demolir pessoas visíveis». Enfim, um autêntico «circo de feras» destinado a liquidá-la. Além de um manifesto exagero, é claro. Porque é preciso não esquecer que aquilo que se passou pode acontecer a qualquer um, diz ela, embora depois tenha garantido que jamais lhe volta a acontecer. Além disso, o «copianço» não tem a importância que se lhe deu, já que «não é um trabalho académico», «não é um artigo científico», «não é sequer um exercício de investigação jornalística». Ou seja, foi mesmo um fait-divers. E, porque assim foi, Clara acha que merece uma segunda oportunidade. Só que a entrevista ao Expresso, claramente uma segunda oportunidade para explicar melhor o que se passou, não ajudou mesmo nada a demonstrar essa tese. Muito pelo contrário. Acabou por ser um puro mexer na merda que, como seria de esperar, voltou a cheirar mal. [Originalmente publicado em 6-3-2003]