EVIDÊNCIAS. A passagem do quinto aniversário do 11 de Setembro tornou-se motivo para verter lágrimas de crocodilo e arrear no presidente americano. Curiosamente, do terrorismo e seus motivos é coisa que não se fala, e quando se fala geralmente condena-se com uma mão, e desculpa-se com a outra. Que os terroristas continuem a tudo fazer para matar o que eles designam por infiéis, de preferência aos milhares, é coisa que não sucederia caso não fosse a política de Bush e os imbecis dos americanos. Que o fundamentalismo islâmico continue a insistir que a vida de um descrente não vale nada ou que a lei islâmica é a única que deve existir, é coisa que não sucederia caso não existisse o problema do Médio Oriente e, claro, Israel. Evidentemente que a administração Bush cometeu erros, o primeiro de todos resultante de ter agido. Como é sabido, quem age arrisca-se a cometer erros, e os americanos cometeram vários. Mas atacar apenas a administração Bush quando se fala de terrorismo, não condenando os actos terroristas e os motivos que os sustentam, é pouco sério ou ignorância pura. Mais: é dar razão aos terroristas, porque passa a ideia de que o terrorismo resulta dos erros de quem o combate e não de outros motivos. Aliás, é por estas e por outras que eu, nesta matéria, estou ao lado de Bush, apesar dos erros e de nem sempre concordar com os métodos utilizados para combater o terrorismo. É que, mal ou bem, os americanos combatem o terrorismo, apesar de as evidências demonstrarem que os alvos do terrorismo islâmico não são, apenas, os americanos, mas toda a cultura ocidental, todos os que não pensam de uma certa maneira, incluindo quem os compreende e desculpa. Claro que quem não pensa desta maneira não é estúpido ao ponto de não ver a evidência, mas dar razão aos americanos, no terrorismo ou noutra coisa qualquer, é coisa que não lhes passa pela cabeça. E é pena, porque essa atitude só fortalece o terrorismo, por muito que não seja essa a intenção e lhes custe a engolir. Enquanto não percebermos que o terrorismo é infinitamente mais importante de que a forma como se combate, enquanto não assentarmos no que está em causa, enquanto fingirmos que isto é um problema dos americanos, enquanto acreditarmos que a coisa se resolve uma vez resolvido o conflito do Médio Oriente, será difícil haver progressos no combate ao terrorismo. É que eu não tenho dúvidas de que é cada vez mais por esta razão que o combate ao terrorismo não teve, até agora, os resultados desejados, como não tenho dúvidas de que, mais tarde ou mais cedo, todos acabaremos rendidos à evidência. Mas já tenho dúvidas de que, quando isso suceder, ainda estejamos a tempo de travar o processo, mesmo adoptando medidas mais drásticas das que se anunciam ou já foram tomadas. [Originalmente publicado em 14-9-2006]