OLHA O QUE EU DIGO. A Igreja Católica Portuguesa decidiu criticar «a excessiva tolerância da comunicação social para com comportamentos sociais que não se coadunam com a matriz tradicional da sociedade portuguesa» (Público, 10 de Abril). D. Tomaz da Silva Nunes, secretário da Conferência Episcopal Portuguesa, considerou, ainda segundo o Público, que os média concedem uma «tolerância ilimitada para com comportamentos que não correspondem às tradições portuguesas», embora não esclarecesse a que tradições se referia. O bispo auxiliar de Lisboa defendeu ainda que «os média devem ter um papel mais activo na manutenção dos valores dos povos» e que, referindo-se a temas como o aborto ou a infidelidade, eles têm contribuído «para anestesiar a consciência de valores fundamentais». O senhor bispo não tem dúvidas que «a comunicação social deve ter em vista a promoção da dignidade das pessoas e a sua formação», denunciando o que está mal e aplaudindo o que está bem. Resumindo e concluindo, o secretário da Conferência Episcopal Portuguesa deixou claro pelo menos duas coisas: em primeiro lugar, que a Igreja Católica portuguesa ainda não percebeu o papel dos média numa sociedade em que a religião está separada do Estado; depois, que os pasquins retrógrados de que é proprietária por esse país fora não lhe confere qualquer autoridade moral para vir dar lições sobre o que deve ser o papel dos média. [Originalmente publicado em 12-4-2002]