UM ABUSO. Dez minutos depois de ter instalado no computador Vida e Obra de Eça de Queirós, um CD-ROM da Porto Editora acabadinho de chegar da terrinha, chegou-me a mostarda ao nariz. Para minha surpresa, a maioria dos textos não se consegue copiar de uma vez só. Só janela por janela, ou seja, além de um verdadeiro teste aos nervos, uma eternidade caso se decida copiar um texto na íntegra e inseri-lo num processador de texto. Procurei nas opções do programa a solução milagrosa. Nova surpresa: não havia. Existem apenas duas opções, ambas irrelevantes e a roçarem o anedótico. Enfim, esgotei a paciência e adiei para melhores dias a exploração do programa. Não sem nova surpresa: o ecrã de saída ficou ali a exibir uma interminável ficha técnica, bem à maneira do cinema, e só desaparece após exibir tudinho o que há para exibir. Enfim, um autêntico abuso. Mas eu já devia ter aprendido a lição. Afinal, a minha péssima experiência com os produtos da Porto Editora já vem de longe. A primeira foi com o corrector ortográfico FLIP, que nunca mais consegui instalar depois de ter sido forçado a apagá-lo. A seguir foi novamente com o FLIP, desta vez com a versão mais recente, que também não consegui reinstalar. Depois foram os dicionários da Língua Portuguesa, de Português/Inglês e de Inglês/Português, que fui obrigado a reinstalar pelas mesmas razões e... até hoje. Tudo isto depois de ter recorrido ao suporte técnico, muito simpáticos no caso do FLIP e a roçar o desprezo no caso dos dicionários. Após dias e dias de e-mails para lá e para cá, concluíram os técnicos que o problema se devia à velocidade do processador do meu computador. Qualquer um dos quatro programas tem problemas a instalar em máquinas superiores a 450 Mhz, disseram, e eu lembrei-me logo que a primeira instalação foi feita quando o meu computador tinha um processador de 400 e hoje é de 550. Ou seja, a história da velocidade fazia sentido. Esperei que me mandassem as novas disquetes com a solução milagrosa. Não sem reparar que, no caso do FLIP, foi preciso mandar-lhes primeiro as disquetes antigas para que eu pudesse receber as novas. Ou seja, o erro é deles e ainda me vieram com exigências. Não sem reparar também que, a ser verdadeiro o prognóstico dos técnicos, o erro é, no mínimo, infantil, e que a solução deveria estar disponível online. Enfim, chegadas as disquetes (para variar, uma delas não funciona), lá consegui instalar o FLIP e os dicionários, mas os segundos só parcialmente. A opção que prevê a instalação completa dos dicionários pura e simplesmente não funciona, o que me obriga a introduzir os CDs sempre que necessito de usar qualquer um deles. Mas não me dei por vencido. Meditei uns dias no assunto e resolvi avançar para uma solução que, segundo a lógica dos técnicos, seria remédio santo: regressar ao processador de 400 e depois instalar os ditos. Assim fiz e... nada feito. A partir daí perdi definitivamente a paciência e deixei de usar o FLIP e os dicionários. O primeiro porque me obriga a utilizar o Word97 quando eu já uso o Word2000 há uns meses valentes (a Porto Editora ainda não disponibilizou o FLIP para Word2000, o que é um absurdo e uma falta de respeito pelos utilizadores), e os segundos porque, mesmo que os consiga instalar integralmente, já sei que amanhã vou ter de novo problemas. De maneira que só me resta agora não me esquecer de verificar de quem são os produtos que estou interessado em comprar. Para ter a certeza que não volto a adquirir produtos da Porto Editora. [Originalmente publicado em 5-6-2001]