OS NERVOS DA JUSTIÇA. Esta história à volta da Universidade Moderna cheira mal deste o início. Agora é a juíza que se vem queixar de «pressão intolerável» de «alguma imprensa» e de um dos advogados dos arguidos, que terá pressionado (ou mesmo ameaçado) funcionários para que estes lhe facultassem partes do processo que, por lei, lhe estão vedadas. Foi durante uma entrevista à televisão do Estado e as reacções não se fizeram esperar. Para o ministro da Justiça, é «intolerável que um magistrado fale num órgão de comunicação social sobre um caso que está nos tribunais». Para o bastonário dos advogados, a defesa deve pura e simplesmente pedir o afastamento da juíza. Para o secretário-geral da associação dos juízes, é estranho que o bastonário dos advogados não se tenha igualmente «pronunciado sobre o caso quando os advogados criticaram publicamente a juíza». Para largos sectores de opinião, porque não haveria a juíza de defender a sua honra se os advogados não se inibem de andarem por aí a fazer insinuações e a dizer enormidades? Enfim, independentemente do desfecho desta história e de a juíza ter metido — ou não ter metido — o pé na argola, tornou-se novamente claro que a Justiça fica à beira de um ataque de nervos sempre que lhe toca julgar arraia graúda. Assim sendo, que justiça pode esperar um anónimo cidadão que nunca fez mal a uma mosca e não tem grossas maquias no banco se um dia tiver o azar de enfrentar um tribunal? [Originalmente publicado em 1-7-2001]