A VALSINHA. «Já chegou o dez de Junho/ o dia da minha raça/ tocam cornetas na rua/ brilham medalhas na praça». Não sei se estão lembrados da música, mas foi assim que Carlos Tê escreveu e Rui Veloso cantou na célebre Valsinha das Medalhas, que me vem logo à memória sempre que se fala de condecorações. Também este ano houve medalhas no 10 de Junho e uns desmancha prazeres que as recusaram, o que já começa a tornar-se um hábito. O historiador José Manuel Tengarrinha recusou a Ordem da Liberdade porque, entre outras razões, considera que as condecorações se «banalizaram» e «perderam dignidade». O jornalista Vicente Jorge Silva decidiu recusar não sei que medalha porque, imagine-se, não gosta «de coisas penduradas ao pescoço» e porque não lhe apeteceu. Obviamente que, por morrer uma andorinha (neste caso dois passarões) não acaba a Primavera. Por isso, aos restantes 28 que aceitaram as ditas dedico uma quadra ainda da Valsinha. É assim: «Quem és tu donde vens/ conta-nos lá os teus feitos/ que eu nunca vi Pátria assim/ pequena e com tantos peitos». [Originalmente publicado em 20-6-2000]