UMA DERROTA ANUNCIADA. Dizem que o fundamentalismo islâmico é uma minoria, e eu esforço-me por acreditar. Mas, sendo uma minoria, como consegue ela ter tanto poder? Convenhamos que não se espera de uma minoria que imponha valores a quem defende outros valores, modos de vida a quem escolheu outros modos de vida. Pegando no último caso conhecido, teriam os responsáveis de South Park censurado um episódio caso fossem ameaçados pela Igreja Católica em vez do Islão? Evidentemente que não teriam, e se calhar teriam aproveitado a ocasião para fazer uns episódios ainda mais «picantes», e o incidente acabaria com os responsáveis da Igreja Católica (reparem, os responsáveis da Igreja Católica, não uma minoria) a meter o rabo entre as pernas. Como é o Islão a fazer ameaças, como as ameaças do Islão são para levar a sério, os responsáveis de South Park puseram-se imediatamente de joelhos, e desculpem lá o meu jeito. Pior: o silêncio generalizado que o episódio mereceu demonstra que tais práticas já se tornaram rotina, o que equivale a dizer que estamos prontos a ceder o que for preciso, e a sacrificar o que for necessário. Sou agnóstico, mas a circunstância não me impede de ver que a Igreja Católica «encaixa» diariamente toda a espécie de críticas, algumas sem fundamento, e só para falar da Igreja Católica. A começar, aliás, pelo Papa, que não sendo o santo que alguns tentam fazer crer não se tem furtado a pedir desculpas pelos pecados próprios e alheios. Ao contrário, o fundamentalismo islâmico exige que lhe peçam desculpa pelo pecado de não pensarem como eles, e estamos cheios de sorte se acederem ao nosso pedido. É perturbante, é revoltante, mas é assim. [Originalmente publicado em 31-5-2010]