PUTAS E SUBMISSAS. Desconheço a seriedade do movimento «Nem Putas nem Submissas», mas simpatizo com o nome. Trata-se, ao que dizem, de um grupo de activistas muçulmanas que pretendem denunciar a «degradação da condição feminina» entre as comunidades imigrantes francesas, pelo que eu só posso aplaudir. Mas se isto não me oferece reservas, já me parece um disparate que deputados franceses (seis dezenas) e o próprio presidente Sarkozy defendam a proibição da burqa, a pretexto de que as burqas são «degradantes» e «verdadeiras prisões ambulantes», e que «a visão destas mulheres aprisionadas» é «inaceitável no solo da República». Discordo por uma razão elementar: por mais que se pretenda libertar a mulher muçulmana da opressão masculina, por mais que se queira pôr fim a situações repugnantes e inadmissíveis no mundo em que vivemos, por mais nobres que sejam as intenções destes e doutros beneméritos, a verdade é que nem todas as mulheres muçulmanas residentes em França usam a burqa porque a isso são obrigadas. É por esta e por outras como esta que nada se tem avançado contra as práticas fundamentalistas islâmicas, nomeadamente em países onde se espera que não aconteçam. Pelo contrário. Situações como esta apenas servem para andarmos para trás. Usando a lógica do fundamentalismo islâmico, proibindo em vez de deixar que cada um livremente decida o que fazer, acaba-se a justificar (e a promover) o fundamentalismo islâmico, precisamente o contrário do que se pretende. Espero, portanto, que os políticos franceses ganhem juízo, e que as simpáticas senhoras alcancem o que pretendem. [Originalmente publicado em 5-8-2009]