PRAGAS. É moda dizer-se que ninguém é isento, logo não é possível redigir uma notícia de forma equilibrada. Como já disse e repeti, concordo em casos excepcionais (manifestações desportivas em que intervém a selecção portuguesa, por exemplo), discordo em quase todos os outros. Não me parece difícil os jornalistas limitarem-se a noticiar os factos, deixando aos leitores (telespectadores, ouvintes) a tarefa de ajuizar pelas suas próprias cabeças o que houver a ajuizar. É essa, aliás, a função do jornalista, ou a primeira função do jornalista. Mas se for difícil, se não resistirem a meter o nariz onde não devem, se insistirem em omitir e/ou distorcer os factos de molde a convencer os leitores (telespectadores, ouvintes) a pensar de determinada maneira, então seria melhor que se dedicassem a outra actividade. O conflito israelo-palestiniano, sobre o qual todos parecem ter uma opinião definitiva apesar da evidente complexidade, é um bom exemplo desta prática, pois geralmente as notícias contêm opiniões que passam por factos, quando se esperaria que as notícias contenham os factos, e só os factos. Como é óbvio, factos são factos, opiniões são opiniões, e espera-se que não se misturem uns com os outros, muito menos deliberadamente. Infelizmente, nem os manuais de redacção e os livros de estilo nos livram desta praga. [Originalmente publicado em 9-8-2010]