MONSTRUOSIDADES. Tirando Carlos Silvino, que confessou ter cometido alguns crimes de que foi acusado, nenhum dos restantes arguidos no processo Casa Pia diz ter praticado os actos pelos quais foi condenado. De um modo geral, os arguidos reagiram indignados com o que consideram monstruosidades, e nem outra coisa seria de esperar depois de se saber que tencionam recorrer das sentenças. Mas se isto se compreende, se os arguidos não podiam dizer outra coisa quando pretendem apelar a outras instâncias, custa-me a crer que o tribunal que os julgou tenha cometido as monstruosidades de que o acusam. É preciso ver que a decisão foi tomada por três juízes (que consideraram credíveis os argumentos dos investigadores, de vários magistrados do Ministério Público e de mais dois juízes), e tudo leva a crer que os arguidos tiveram todas as condições para se defender. Não duvido que a justiça cometeu erros e que mereça, de um modo geral, todas as dúvidas, mas custa-me a crer que tenha cometido os erros grosseiros de que é acusada sabendo de antemão que todos os olhos estavam postos nela, e que não tinha, portanto, margem para errar. Lamentável é que a sentença acabe em coisa nenhuma — por causa dos recursos, por ultrapassar os prazos previstos, por outro motivo qualquer. Pior: as dúvidas que subsistem adensar-se-ão em vez de se dissiparem, o que é mau para a justiça e péssimo para quem está a contas com ela. Ficará, contudo, uma certeza: fossem outros os arguidos e estariam, há muito, na cadeia. Com culpa ou sem ela, mas isso é outra conversa. [Originalmente publicado em 13-9-2010]