INDEPENDÊNCIAS. Antigamente, era pecado zurzir em quem estava no poder, e geralmente pagava-se cara a ousadia. Hoje, é pecado defender quem está no poder, embora os custos sejam infinitamente menores. Como terão notado, não sou, por princípio, contra o poder ou a favor do poder, seja o poder qual for, e será desnecessário dizer que um pouco de bom senso bastará para se concluir que nem tudo é mau no poder, e nem tudo é bom na oposição. Por mais que me chamem «seguidista» ou coisas piores, recuso-me a criticar o Governo se achar que não há motivos para tal, e parece-me desnecessário lembrar que quem é contra o Governo não é, necessariamente, independente, como tantas vezes se pretende fazer crer. Também não aceito que se ataque um governante (dirigente político, destacado militante de um partido político, casos do género) por este ter tomado uma medida que não agradou ou dito algo que não caiu bem usando como arma o ataque pessoal em vez de argumentos, para mim os únicos legítimos. Ser contra o poder é popular nos regimes democráticos, pelo menos nos regimes democráticos dignos desse nome, e sempre politicamente correcto. Mas como não pretendo ser popular nem politicamente correcto, digo o que penso, e logo se vê. Se vierem elogios, aprecio-os e agradeço. Se vierem impropérios, já estou vacinado. Ser independente tem custos. Geralmente apanha-se de todos os lados, incluindo dos independentes. Não é agradável, que não sou masoquista. Mas são as regras do jogo, e não estou disposto a trocá-lo por nenhum outro. Por mais que isso incomode algumas almas, por mais jeito que me dê, por mais confortável que seja. A não ser que me ponham um revólver à frente, que nesse caso mudarei de opinião sem grande dificuldade. [Originalmente publicado em 15-1-2010]