CHEGÁMOS À MADEIRA. Quando ocorreu a tragédia no Haiti, as primeiras notícias falavam de mortos e feridos e de um país miserável, onde a tragédia teria sido atenuada caso não fosse governado por gerações de políticos que não se recomendam. Que me lembre, ninguém se indignou que assim se falasse. Agora, que a tragédia chegou à Madeira, quando alguém sugeriu erros de planeamento urbanístico, que eventualmente teriam reduzido a dimensão da tragédia, foi logo apelidado de canalha, e quem tinha algo a dizer sobre o assunto meteu o rabinho entre as pernas. Não sou especialista em planeamento urbanístico, mas a ignorância não me impede de ver o que me parece uma evidência: se é provável que os críticos de Jardim aproveitaram a ocasião para o criticar, não olhando a meios e a escrúpulos, também é nestas alturas que melhor se percebem os eventuais erros cometidos. As tragédias deviam, ao menos, servir para lhes conhecermos melhor a origem — de modo a evitar que se repitam caso seja possível evitar que se repitam, ou de forma a encontrar maneiras de minimizar as consequências. Concentrar as energias a enterrar os mortos e a cuidar dos vivos, como dizia o outro, é uma tarefa meritória, mas soa a pouco. [Originalmente publicado em 15-3-2010]