UMA LIÇÃO. Como estarão lembrados, o Futebol Clube do Porto (FCP) foi condenado a perder seis pontos porque o órgão disciplinar da Liga de Clubes entendeu que o clube nortenho cometeu um crime de corrupção na forma tentada. Como se viu mal a decisão foi conhecida, o FCP acatou o castigo praticamente sem comentários, e logo anunciou que não tencionava recorrer. E por que razão assim foi? Aparentemente, pelas razão que todos suspeitam: o FCP não perdeu nada no plano desportivo, e no plano financeiro 150 mil euros de multa nem atrasam, nem adiantam. Digo aparentemente porque não me lembro de ter visto qualquer reacção do FCP, na minha opinião um erro crasso. Por uma razão muito simples: a postura do FCP não deveria pautar-se por meras razões contabilísticas, mas por uma questão de princípio. É sabido que quem cala consente, pelo que a decisão de não recorrer do castigo não pode deixar de ser vista, também, por esse lado. Isto, claro, partindo do princípio que o FCP se julga inocente e discordou da decisão da Liga, como sucedeu com o castigo imposto a Pinto da Costa, que logo anunciou recurso. Bem sei que não se pode exigir ao FCP que seja um modelo de virtudes, mas uma instituição que pretende ser respeitada devia começar por dar-se ao respeito. E dar-se ao respeito implica, a meu ver, protestar quando for caso disso, se necessário forte e feio — como, aliás, é tradição do FCP. Como nada disso ocorreu, como o pragmatismo falou mais alto que os princípios, o episódio prestou-se em demasia a leituras que não abonam o clube nortenho. Certamente que a UEFA, que acaba de suspender o FCP das competições europeias, não deixou de ter isto em consideração. Aliás, nem se compreenderia que assim não fosse. Como os patrões do futebol europeu não costumam ter contemplações quando se trata de disciplina, a coisa só poderia dar no que deu. Resta esperar que os dirigentes do FCP, e do futebol português em geral, aprendam a lição. [Originalmente publicado em 4-6-2008]