PROFESSORES. É extraordinário como a Oposição cavalgou a onda dos professores sem dizer uma palavra sobre os motivos que os levou ao protesto. Por junto, tudo o que lhe ouvimos foram generalidades, tornando-se evidente que a ideia da Oposição foi apanhar o comboio do protesto contra o Governo a qualquer preço. Ao menos ficamos a saber que os partidos da Oposição, nomeadamente os partidos que aspiram a ser Governo, deixarão, em matéria de Educação, tudo na mesma caso venham a ser Governo, pois deixaram de ter qualquer autoridade para fazer as mudanças que se impõem. Claro que ninguém pode ignorar a multidão que saiu à rua, a forma politicamente correcta de se dizer que a rua tem sempre razão. Ninguém, a começar pelo Governo, que até já disse pretender melhorar a avaliação dos professores, e acaba de descobrir as vantagens da «flexibilização». Mas eu, que não mudo ao sabor das conveniências, não fiquei impressionado com a rua, nem vejo razões para mudar de ideias. Como já disse e repeti, se todos os métodos de avaliação dos professores até agora propostos são maus, por que não apresentam os professores uma proposta de avaliação? Mais: alguém conhece as propostas de avaliação dos sindicatos dos professores? Sim, também já ouvi que os professores não estão contra a avaliação, mas contra esta avaliação. A frase soa bem, não há dúvida que soa, mas só convence os distraídos. Os professores estarão, sempre, contra a avaliação, qualquer que seja a avaliação, a não ser que ela, na prática, não avalie coisa alguma. Há muito que se percebeu que os professores querem ser eles, e só eles, a decidir o que deve ser feito e como deve ser feito, não só na área que lhes diz directamente respeito, mas na Educação em geral. Por razões que todos conhecem e se compreendem quando se olha para eles enquanto pessoas que, como as outras, têm contas a pagar ao fim do mês, mas que não podem ser obstáculo quando está em causa a melhoria das escolas e dos alunos, o bem de todos. Para os professores, a culpa é sempre do Ministério da Educação, do ministro da tutela, do Governo. De todos os ministérios, de todos os ministros, de todos os Governos pós-25 de Abril. Falo, claro, da regra, que ele há professores que não pensam assim e querem ser avaliados, embora, há que dizê-lo, sejam a minoria. Evidentemente que os professores têm razões para sorrir após o sucesso da recente manifestação. Já os pais e os alunos, não me parece que tenham. Não, não pretendo diabolizar os professores, nem culpá-los pelo que vai mal no ensino — embora, é claro, há culpas que lhes cabem que nunca vi assumidas. Pela paz podre que por aí vai e pelo oportunismo político tão descarado como irresponsável, já me contentava que não os canonizassem. [Originalmente publicado em 12-3-2008]