PACIFISTAS. Lembram-se do autarca que ameaçava puxar de pistola caso alguém lhe falasse de cultura? Pois apetece-me fazer o mesmo quando ouço falar de pacifistas. É que eu espero dos pacifistas o que me parece normal esperar deles: que defendam incondicionalmente o fim da guerra, seja a guerra qual for, e isso raramente acontece. Em vez de defenderem a paz, os pacifistas limitam-se a condenar uma das partes em conflito, a quem exigem que pare de agredir a outra. Pior: as vítimas inocentes de uma guerra nunca são, para eles, iguais. Se forem palestinianos ou iraquianos, saem à rua a protestar. Se forem israelitas ou americanos, calam-se muito caladinhos. Onde estavam os pacifistas quando os palestinianos se matavam uns aos outros? Que me lembre, não tugiram, nem mugiram. Pior outra vez: se pudessem, não hesitariam em pegar em armas e combater uma das partes, no caso presente Israel, mas o exemplo podia ser outro. O presidente iraniano prossegue o programa nuclear apesar das sanções da ONU e da condenação generalizada e ainda lhe sobra tempo para ameaçar varrer Israel do mapa — e os pacifistas não se ouvem. Mas já se ouvirão caso ganhe consistência a hipótese de um ataque israelita ao Irão, mesmo sabendo os pacifistas que Israel tem uma ameaça real sobre a sua cabeça, e que seria um suicídio nada fazer de forma a travar Ahmadinejad. Claro que há quem seja genuinamente pacifista, mas esses não são para aqui chamados — e, infelizmente, não contam. Falo dos pacifistas para quem a paz não é um fim mas um meio de alcançar outros objectivos, evidentemente que nem todos recomendáveis, e infinitamente menos importantes que a paz. Falo dos pacifistas que só se distinguem dos fundamentalistas que se fazem explodir por aquilo em que acreditam porque os pacifistas se limitam a legitimar estes comportamentos e as suas causas. Infelizmente, os pacifistas servem, apenas, para incendiar, ainda mais, os conflitos pelos quais juram ralar-se, quando deles se esperaria que contribuíssem para lhes pôr fim. Pena é que nem todos percebam as razões que os movem, e que ainda lhes atribuam um estatuto que não merecem. [Originalmente publicado em 7-1-2009]