JARDIM. Há, no Brasil, uma expressão muito usada para caracterizar os detentores de cargos políticos com obra feita mas pouco escrupulosos nos métodos que diz o seguinte: «Rouba, mas faz.» Isto mesmo se poderia dizer de Alberto João Jardim caso substituíssemos o «rouba» pelos frequentes atropelos à democracia e pelos constantes insultos aos titulares dos órgãos de soberania. De facto, não há uma única vez que Jardim pise o risco que não venham logo com um «mas», como se a obra (que todos lhe reconhecem) lhe desse o direito de pisar o risco. Pior: parece que Jardim se tornou inimputável, faça ele o que fizer, diga ele o que disser. Ainda pior: o dirigente madeirense é manifestamente incapaz de encaixar uma crítica mais desabrida, como as decisões dos tribunais bem o demonstram. Ora, eu quero dizer, pela enésima vez, que as tropelias de Jardim me indignam, e ainda me indigna mais que lhe reconheçam coragem para dizer o que diz, como se o presidente da Madeira não soubesse de antemão que não haverá consequências. Afirmar, como há pouco afirmou, que os deputados da assembleia madeirense são um «bando de loucos», ultrapassa, de novo, os limites, como concordará qualquer pessoa com um pingo de bom senso. Claro que estou a chover no molhado, pois tenho o (péssimo) hábito de me bater por aquilo em que acredito quando todas as circunstâncias o desaconselham. Aliás, o silêncio do Presidente da República sobre este assunto, a pretexto de que o silêncio é mais eficaz, é só mais um aviso, e só vem demonstrar que não tenho emenda. Mas já não estou tão seguro que atitudes destas não tenham, a prazo, consequências, no caso consequências indesejáveis. Afinal, o mal que se diz dos políticos quase sempre resulta dos erros que eles cometem, e atitudes como esta só contribuem para tornar as coisas ainda pior. Em vez de fazerem de conta que não viram, os políticos deviam ser os primeiros a insurgir-se contra estes comportamentos, nomeadamente os detentores de órgãos de soberania. O silêncio, em casos destes, não pode ser a alma do negócio, pois cria mais problemas do que resolve. [Originalmente publicado em 21-4-2008]