FALAR CLARO. Devo à crítica literária e musical parte do gosto pelos livros e pela música. Mesmo à crítica de que discordei, e à que me levou por caminhos diferentes aos que me recomendaram. Mas devo acrescentar, também, que me fartei, e hoje só raramente a leio. Reconheço a crítica das artes e das letras como uma actividade ingrata, e num país minúsculo como o nosso ainda mais difícil se torna a sua prática. Admiro, por isso, a coragem dos críticos portugueses, pois certamente que se arriscam a umas bordoadas quando não morrem de amores pelas obras que analisam. Mas finda aqui a minha admiração pela crítica. É que a crítica, às vezes (demasiadas vezes), só atrapalha, complica em vez de facilitar, distancia em vez de aproximar. Por regra, a crítica diz-nos que o crítico aprova ou não aprova, mas raramente nos explica porquê — ou nos fornece dados que permitam perceber-se porquê. Dizia não sei quem que a crítica é um exercício destinado, apenas, a fazer brilhar quem o pratica — e, não raro, a esconder a ignorância de quem o pratica. Não penso que assim seja, mas não há dúvida de que há demasiados exemplos que apontam neste sentido. E é pena, pois a crítica devia, antes de mais, iluminar o que critica, e conquistar adeptos para a causa. Falando bem ou mal, mas falando sempre com argumentos — e de modo que se entendam. [Originalmente publicado em 9-12-2007]