DAS BOAS INTENÇÕES. Há uma lista de pessoas a abater na noite portuense, garantiram, há meses, seguranças e polícias ao Correio da Manhã. Por aquilo que se vê, não se duvida. Aliás, quem conhece, mesmo que vagamente, a vida nocturna portuense sabe que os «empresários da noite» não são flores que se cheirem, e que facilmente associamos a actividades como o tráfico de droga, cobranças difíceis, extorsão, venda de armas, exploração de prostituição e por aí fora. Naturalmente que há excepções, mas excepções são isso mesmo — e é da regra que falo. E a regra, no caso, demonstra que a noite portuense é dominada por empresários sem escrúpulos aliados ao que há de pior, pelo que ninguém se surpreende com as recentes matanças. Surpresa, a haver, só se for por existirem tão poucos casos como os ora ocorridos, embora se suspeite que outros haverá que, por não resultarem em homicídio, nunca verão a luz do dia. Surpresa, também, não será a participação de agentes da polícia na segurança de bares e aparentados — nem, sequer, o facto de o fazerem de forma ilegal, pois há anos que ouvimos falar de polícias travestidos de seguranças a protegerem dirigentes da bola. Surpresa só o director da Judiciária do Porto quando ele disse, ao Correio da Manhã, que a noite do Porto «está sem controlo», e que «é de temer tudo». E o porta-voz do Comando Metropolitano do Porto da PSP, quando admitiu ao mesmo jornal que a situação «pode piorar nos próximos tempos», e que as autoridades nem tudo podem fazer. Surpresa porque isto é uma confissão de impotência, a capitulação anunciada — e a consequente impunidade dos meliantes. Surpresa, por último, o facto de declarações destas terem passado por normais, demonstrando que a irresponsabilidade é maior do que se julga. Dir-me-ão que a recente operação na noite portuense é um sinal de que as coisas vão mudar. Olhando a práticas passadas e ao que acabo de enunciar, duvido. Têm sido tantos os erros das polícias e dos tribunais que não se espera outra coisa que não seja mais do mesmo. As boas intenções, a haver, não bastam para que as coisas mudem, além de que de boas intenções está o Inferno cheio. [Originalmente publicado em 26-12-2007]